domingo, 5 de junho de 2011

Telefonema desconcertante

Ela não via a irmã  a mais de uma década e apesar de se achar uma mulher moderna, só se comunicava com a irmã por telefone. A frequência dos telefonemas aumentavam, conforme as promoções das operadoras. A irmã distante, ainda a imaginava como a moleca que corria no quintal dela e ajudava-a nas tarefas do lar. Ledo engano, até as tarefas do lar não lhe competiam mais. 

O telefone  chamou e quando atendeu,  a voz do outro lado, com um sotaque característico do nordeste, que ela a muito tempo já não ouvia, a fez crer que falava com a irmã que fazia aniversário.

- "Álô?"

-Parabéns pra você, nessa data querida - fez um gesto para que  as filhas high tech as acompanhasse na cantoria  e apesar de revirarem os olhos e do nítido desinteresse, as meninas a acompanharam e entoaram em três vozes desafinadas as felicitações para a Tia do outro lado do país - [...] muitas felicidades, muitos anos de vida! É pique! É pique! É hora, é hora, é hora! Rá-Tim-Bum ! Tia Clara! Tia Clara!

Do outro lado a linha estava quieta. Ela imaginou que a irmã estivesse emocionada e então perguntou:

-Gostou Clara?

Do outro lado, ninguém respondia, mas, dava para perceber que alguém estava na linha. Até que a pessoa do outro  lado respondeu;

- Ói, eu não gostei dessa palhaçada não, visse? Eu não sou Tia, não sou Clara,  nem faço aniversário hoje e vocês são muita é das desafinadas, visse? Esse é um "tróti" de "muitio" mal gosto. Vá caçar o que fazer suas raparigas - E desligou.

No lado de cá, Ela estava estagnada, as filhas a fitavam, até que a mais nova desatou a rir e todas caíram no riso. A mãe havia errado na hora de discar o número. Ela tratou de ligar novamente, assim que atenderam do outro lado, tratou de se certificar de que falava mesmo com sua irmã, felicitou-a e desligou logo. 
Estava "traumatizada". E depois as meninas disseram que não iriam pagar aquele "mico" novamente de cantar parabéns pelo telefone.

 As meninas até sugeriram que dá  próxima vez, utilizassem a web cam no MSN ou Skype, que além de poderem ver a Tia, a Tia as veriam também. Ela ficou de considerar, mas, achava aquelas coisas muito complicada, embora não admitisse. 

Não conseguia fazer nem uma ligação interurbana corretamente, que dirá usar essa tal de "cuecam", "missieni" e "Spyke". Aquilo não deveria significar coisa boa. Melhor no ano seguinte, visitar a irmã. Vai saber para quem elas iriam se mostrar na "cuecam"?  O melhor mesmo era viajar. Mas, de ônibus. De avião ela se confundia.

Um comentário:

  1. Ei Brenda, adorei seu texto! De modo claro e simples, ele mostra um choque de gerações, a informatizasa/cibernetizada, com uma não tão "tecnologizada" assim, mas que tem os seus meios eficazes de se comunicar! Rs! Beijoo!

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