sábado, 24 de julho de 2010

Milimétricamente Insubstituível

Tudo quieto. Frio. Escuro. Só a rodovia à frente. Só lembranças e uma tranca na sua porta de acesso ao meu coração

Lembra de quando nos vimos pela primeira vez? (risos). Era uma noite qualquer, no interior da cidade de nossas avós. Primeiro, não nos gostávamos, e sempre que nossas famílias se reuniam, encrencávamos um com o outro, totalmente o oposto de nossas famílias. Era engraçado, pois nossas avós eram amigas de longa data, no entanto nós, se estávamos sob o mesmo teto... Era discórdia na certa.

Acho que é porque somos muito teimosos. E nossa teimosia, queria teimar com o destino, sempre o senhor da razão. Daí, quando viu que a disputa era inútil, cedeu ao que estava traçado, e naquela tarde dentro do ônibus, voltando das férias no interior na casa de nossas avós, com destino à nossas faculdades, por motivo desconhecido de nós meros mortais, nossas poltronas eram uma ao ladinho da outra, vizinhas. Parecia que só ali nos conhecemos, que só ali nos enxergamos. E era tão óbvio nossa insistente junção, que nem nos demos ao trabalho de impetrar novas intrigas, tudo ali fazia sentido, a mística da morte, a desigualdade no mundo, a ganância humana... Tudo, tudo, tudo, se tornou lúcido naquele instante. Em pensar que já havia mais de dois anos que estudávamos no mesma universidade, mesmo campus, moradias próximas... E nem se quer nos esbarramos!

Nosso amor começou num ônibus, e também foi num ônibus que ele terminou. Digo, sua vida terminou, meu amor por você, não .Na época, você até já tava com a moto, lembra? Mas a Vó achava muito perigoso irmos para lá com ela, insistiu tanto para irmos de ônibus, por que era mais seguro... E deu no que deu. Ela ainda acha que foi culpa dela, mas quem é que pode influir no momento de início e de término na vida de alguém?
Eu já não vou mais lá. Apesar de nossa infância cheia de encrencas, é como se tivéssemos passado toda nossa vida ali, e de certa forma passamos, mas distantes. Cada cantinho da cidade tem seu jeito, nas nuvens vejo seu rosto, de noite sinto seu perfume vindo com a brisa calma...Quando finalmente se juntamos, bum, um acidente nos separou de novo. As vezes até acho que só foi a gente se juntar, para nossas vidas serem interrompidas.

Nossa filhinha completou sete meses, e tem um ano que você se foi. Ela é sapeca como a Bisa dela, sua Vó! A coisa mais linda e valiosa do mundo, é seu renascimento. Tranquei a faculdade, agora só volto quando nossa pequena tiver com dois aninhos, daí só faltará um semestre para eu pegar o diploma! Eu tento, entender, penso, penso, mas... Não faz sentido, nosso amor! E talvez seja por isso, como dizem né? Amores injustificáveis, são impossíveis de se findarem, sua fonte é espontânea. E não há nada que o destrua.
Lembra daquela música que você houvia sempre, gostava muito, do Guns? Então, ela tem uma mensagem pra mim. Tenho certeza que é para mim! É estranho como 'nós', virou 'mim',enfim, ela tem uma mensagem para mim, Eu nunca vou achar ninguém para te substituir. Acho que vou ter de superar isso dessa vez. Eu tenho que superar isso. Eu tenho. E é por isso que agora estou à caminho da casa das nossas Avós, elas continuam teimando muito, e querem muito conhecer a bebê. Não sei como vai ser todos juntos novamente, mas com sua ausência, mas, eu tenho que superar isso. Eu tenho, mesmo que nada seja milimetricamente capaz de te substituir, tenho que superar...

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